Diversificação na produção de gás natural é essencial para a consolidação do novo mercado
Por Mathieu Piccin, diretor de Sustainability Business da Schneider Electric para América do Sul
Este ano tem sido, globalmente, bastante “turbulento” para o segmento de gás natural. Da elevação de custos no âmbito nacional – influenciado por uma baixa concorrência e alta dependência do ator histórico – até o cenário conflituoso na Europa, alterando o cenário de oferta e demanda, o setor está se deparando com diversos desafios e uma necessidade crescente de mudança.
No Brasil, em 2021, a produção do gás natural aumentou 5% sobre 2020, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Considerando o uso residencial, nos últimos cinco anos, o País teve aumento de 32,7% nos pontos de consumo, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás).
No mês de abril, conforme o último boletim divulgado pela ANP, as altas continuaram – mesmo que mais amenas diante de um cenário de altos preços. O segmento teve uma expansão de 0,8% se comparado ao ano anterior e de 0,6% na comparação com março.
E o potencial demonstra ser cada vez mais promissor. Podendo ser aplicado em residências, comércios, indústrias e no setor automotivo, o gás natural apresenta uma queima com menos emissões de CO2 se comparado com outros combustíveis e maior segurança (por conta da sua composição ter uma densidade mais leve que o ar, se dissipa rapidamente e diminui riscos de explosões).
Mas, mesmo com diversas possibilidades de crescimento, o segmento ainda enfrenta uma série de obstáculos para se consolidar, de fato, no cenário nacional, um dos principais deles é a dependência da Petrobras. Só em dezembro, a estatal foi responsável por 93% da produção nacional de óleo e gás.
Pela falta de outros produtores e, como consequência, a baixa competitividade, a empresa tem liderado as discussões e definições de preços do gás natural. O cenário impõe limites para toda a cadeia de distribuição, tendo em vista a escassez de opções e, com isso, o risco de os consumidores ficarem sem o produto.
Para 2022, depois de muitas negociações com as distribuidoras (que previam que os valores poderiam quadruplicar no período), a Petrobras definiu um reajuste de 19% para os preços médios do combustível – considerando o cenário mundial.
Diante desses desafios, uma contribuição positiva à evolução do mercado pode vir pela diversificação dos seus players. Com a competição na oferta, o preço – tanto para as distribuidoras quanto para os consumidores – diminui e a flexibilidade para novos contratos aumenta.
Seguindo esse contexto, atualmente, o País conta com ao menos dez novos fornecedores. O dado é da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás (Abpip). Além disso, segundo a ANP, 11 distribuidoras estaduais já possuem contratos assinados com esses novos supridores para compra de mais de 5,5 milhões de m³/dia em 2022.
Não podemos desconsiderar o forte potencial de biogás em diversas frentes em nosso país, como por exemplo o segmento sucroalcooleiro que tem a vinhaça como resíduo que pode ser reaproveitado, transformado em biogás e adaptado para o biometano, tonando-se 100% compatível ao gás natural.
Seja para ampliar a distribuição do combustível para novos lugares, para diminuir o preço para o consumidor, para aumentar a competitividade da indústria brasileira e apoiar uma recuperação econômica sólida, e para fornecer opções de descarbonização do escopo 1, é importante que siga essa tendência de diversificação da cadeia de produção do setor de gás.